Concentração Empresarial nas Exportações de Soja nos Países do Mercosul (2003 – 2018)1

Concentración Empresarial en las Exportaciones de Soja en los Países del Mercosur (2003 – 2018)

Wellington Luciano dos Santos2

Valdemar João Wesz Junior3

Fecha de recepción: 01/11/2022

Fecha de aceptación: 10/03/2023

Resumo

Nas últimas décadas, a produção de soja se tornou a principal atividade agrícola no Mercosul. O objetivo deste artigo é mensurar o grau de concentração empresarial nas exportações da soja em grão e o poder de mercado das firmas entre 2003 e 2018 nos países do Mercosul. Para as análises de concentração, são usados três indicadores: Herfindahl-Hirschman, Market Share e Relação de Concentração. Os resultados apontam que as exportações de soja tiveram um grande crescimento no período, o qual depende de um reduzido número de grandes empresas transnacionais, com destaque às americanas ADM, Bunge e Cargill, à francesa Dreyfus e, mais recentemente, à chinesa COFCO.

Palavras-chave: mercado da soja; empresas transnacionais; concentração de mercado.

Resumen

En las últimas décadas, la producción de soja se ha convertido en la principal actividad agrícola del Mercosur. El objetivo de este artículo es medir el grado de concentración empresarial en las exportaciones de soja y el poder de mercado de las empresas entre 2003 y 2018 en los países del Mercosur. Para los análisis de concentración, se utilizan tres indicadores: Herfindahl-Hirschman, Market Share y Relación de Concentración. Los resultados muestran que las exportaciones de soja tuvieron un gran crecimiento en el período, el cual depende de un reducido número de grandes empresas transnacionales, en especial las estadounidenses ADM, Bunge y Cargill, la francesa Dreyfus y, más recientemente, la china COFCO.

Palabras clave: mercado de la soja; empresas transnacionales; concentración de mercado.

Introdução

Nas últimas décadas, sobretudo após 1990, a produção de soja se tornou a principal atividade agrícola nos países membros do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (Guibert, 2018; Wesz Jr., 2016). E, atualmente, esses países estão entre os maiores exportadores de soja em grão em nível mundial, com o Brasil liderando as exportações, enquanto Argentina e Paraguai seguem, na terceira e quarta posição, respectivamente, logo após os Estados Unidos (USDA, 2021). Frente a isso, a compreensão de quem são os agentes por trás da comercialização nos principais países produtores tornou-se fundamental.

Um núcleo reduzido de quatro empresas - Archel Danields Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Commodities (popularmente conhecidas como ABCD pelas iniciais de seus nomes) - são historicamente responsáveis por parcelas consideráveis deste mercado em escala global (Morgan, Mazía & Coco, 1983; Murphy, Burch & Clapp, 2012), com forte atuação no Brasil (Medina, 2021; Wesz Jr., 2011), Argentina (Naspleda, 2021; Pierri, 2014), Paraguai (Santos & Wesz Jr., 2018; Villagra, 2009) e Uruguai (Figueredo, Guibert & Arbeletche, 2019; Oyhantçabal & Narbondo, 2011).

Importante comentar que ABCD são empresas centenárias, com uma atuação diversificada no ramo agroalimentar e com presença simultânea em dezenas de países. Conforme Murphy, Burch e Clapp (2012), a ADM (Archer Daniels Midland) é uma companhia americana, iniciou suas atividades em 1902 em Minneapolis/Minnesota e atualmente possui sede em 75 países, atuando na produção de ingredientes alimentares, nutrição animal e produtos químicos e energéticos. A Cargill foi fundada em 1865 nos Estados Unidos e hoje tem base em mais de 70 países, subdividindo suas operações em diferentes setores, como serviços agrícolas, ingredientes e aplicações, alimentos, originação e processamento, gestão de risco e serviços financeiros e bioindustrial. A Bunge iniciou suas operações em 1818 nos Países Baixos e atualmente opera cerca de 400 instalações em 40 países, especializando-se principalmente na produção de cereais, oleaginosas, açúcar e etanol. A Louis Dreyfus Commodities (LDC), por sua vez, foi fundada em 1851 na França, estando presente em 90 países, e sue foco é a comercialização de matéria-prima e biocombustível.

Mas, nas últimas duas décadas, outros agentes ingressaram ou ampliaram sua participação nas exportações de soja em grão nos países do Mercosul, incluindo empresas de atuação nacional (como a Cooperativa Agroindustrial Coamo no Brasil; Associação de Cooperativas Argentinas na Argentina; Grupo Favero e Francisco Vierci no Paraguai; Erro Barra e Garmet no Uruguai), regional (Amaggi e Vicentin) e global (COFCO, CHS, Sodrugestvo). Um exemplo de renovação dentro deste mercado é a empresa estatal chinesa COFCO, que ganhou poder de mercado através da aquisição, em 2014, de duas importantes corporações agrícolas globais (Noble, com sede em Hong Kong, e Nidera, baseada na Holanda), aproveitando estruturas logísticas e de armazenagem já consolidadas em diferentes países, com destaque ao Mercosul (Wesz Jr., Escher & Mefano, 2021).

Apesar da centralidade que o complexo soja assumiu nos países do Mercosul, faltam estudos que analisem os maiores exportadores de soja. O objetivo deste trabalho é mensurar o grau de concentração empresarial nas exportações da soja em grão e o poder de mercado das firmas entre 2003 e 2018 nos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).

Metodologia

Para mensurar concentração empresarial e poder de mercado, teremos como base três indicadores: Market Share (MS), Relação de Concentração (RC) e Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH). Além de serem usados em análises de diferentes setores industriais, tratam-se dos índices mais frequentes nas pesquisas sobre mercados agroalimentares, inclusive na cadeia produtiva da soja (Carvalho, 2004; Carvalho & Aguiar, 2005; Costa & Santana, 2014; Guerrero, 2014; Staevie, 2017).

O Market Share (MS) é expresso pela porcentagem de uma empresa x sobre um determinado mercado T, e se calcula a partir da quantidade produzida (ou outra variável, como volume comercializado ou capacidade de processamento) de uma empresa, sobre o total produzido em determinado tempo e recorte geográfico, no modo que:

MS=x100/T(1)

A Relação de Concentração (RC) - que em alguns textos também aparece como Razão de Concentração (Carvalho, 2004; Sediyama et al., 2013) ou Taxa de Concentração (Carvalho & Aguiar, 2005) - é expresso a partir da soma da participação das maiores empresas em determinado mercado, comparando com o total expresso de todas as empresas do mesmo:

RCE=∑ni=1MS(2)

Nesta fórmula, a variável “MS” corresponde à participação de mercado (Market Share) e o “E” corresponde ao grupo de maiores empresas. Neste caso, um E = 4 representa a soma das fatias de mercado das quatro maiores empresas e assim sucessivamente (Costa & Santana, 2014). Embora seja quatro o número de firmas geralmente consideradas (RC4), o qual será utilizado nesta análise, este mesmo cálculo pode considerar qualquer número de firmas (como CR8, CR10, etc.). Para confirmar a existência de um mercado concentrado, os resultados serão analisados sobre critérios pré-definidos por Medeiros e Reis (1995) e Fraga e Medeiros (2005), que definem os seguintes parâmetros: altamente concentrado RC4> 75%; alta concentração 65% < RC4< 75%; concentração moderada 50% < RC4< 65%; baixa concentração 35% < RC4< 50%; ausência de concentração RC4< 35%; claramente atomístico RC4< 2%.

O IHH, por sua vez, possibilita uma compreensão de um mercado geral e suas centralizações, sendo obtido através de:

IHH= ∑ni =1MS2.(3)

O resultado pode variar de 0 a 10.000, sendo 0 um mercado que apresenta a concorrência perfeita e 10.000 indica a existência de monopólio. Entre estes extremos, são estabelecidas faixas de valores para identificar diferentes graus de concentração. Nos estudos sobre o mercado da soja,

si el Índice arroja un resultado inferior a 1.000, se trata de un sector competitivo; si el resultado se encuentra entre ese valor y 1.800, se trata de un sector medianamente concentrado y, por último, si el valor supera los 1.800 el sector presenta características de elevada concentración. (Guerrero, 2014, p. 34-35)

Os dados referentes a exportação de soja para a Argentina tiveram como base a SAGPyA – Secretária de Agricultura Ganaderia, Pesca e Alimentación, vinculado ao Ministério da Agricultara, Ganaderia y Pesca (MAGyP). Entretanto, como houve alteração na estrutura ministerial nos últimos anos, somente se encontrou dados online nesta fonte de 2003 a 2010 e de 2016 a 2018. Entre 2011 e 2015 foram utilizados os dados organizados pela Bolsa de Comercio de Rosaria (BCR) referentes ao período entre 2011/2012 e 2015/2016, mas que também tem como fonte o MAGyP.

Para cálculo dos índices no Paraguai, foram utilizados dados fornecidos pela Aduana, vinculada ao Ministério da Fazenda, através de consultas públicas. Os dados do Uruguai são disponibilizados via Uruguay XXI, que é a agencia pública responsável pela promoção de exportações e investimentos no país. Para o Brasil, visto que não são oferecidas informações públicas no tema, os dados foram coletados na plataforma virtual TRASE, iniciativa fundada por Stockholm Environment Institute e pela Global Canopy, que disponibiliza o Top 10 das empresas agroexportadoras de soja entre os anos de 2003 e 2018.

É importante comentar que o período da análise (2003 – 2018) se deve pela indisponibilidade de dados para outros anos, sobretudo em relação ao Brasil, visto que nos outros países seria possível ampliar o recorte temporal. Também pela indisponibilidade dos dados não será possível calcular o IHH para o Brasil (todo período) e Argentina (pós-2011) porque, para ambos os países, a categorias “outros” somava o poder de mercado individual de um grupo de empresas com menor participação, o que impossibilita o cálculo.

Vale pontuar que os dados regionais disponíveis em outras plataformas, como a Divisão de Estatística da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Faostat) ou o Banco de Dados Comerciais das Nações Unidas (Comtrade), ou ainda o Atlas de Complexidade Econômica da Universidade de Harvard, não são úteis para a pesquisa por falta de informação em nível de empresa. Apesar dessas limitações no acesso à informação, esse desafio outorga maior relevância à pesquisa, visto que mobilizou distintas fontes para estimar o grau de concentração no setor nos diferentes países do Mercosul.

A revisão bibliográfica também esteve presente entre os métodos da análise, juntamente com a consulta de informações oficiais nos sites corporativos das empresas e de órgãos estatísticos dos países analisados. Para calcular o índice regional, foi utilizada a soma dos volumes exportados de soja por empresa para cada país, a partir das fontes citadas acima, e obtida a porcentagem através do montante total para região.

Concentração Empresarial na Exportação de Soja em grão no Mercosul

Os resultados da pesquisa serão apresentados a partir dos índices MS, RC4 e IHH, entre os anos 2003 e 2018. Inicialmente são evidenciados os países membros do Mercosul individualmente e, ao final, é realizada uma análise regional. Outro esclarecimento importante é que, embora também ocorra a exportação de soja transformada, sobretudo via farelo (para fabricação de ração animal) e óleo (para uso humano, industrial e como biodiesel), o foco será a exportação de soja em grão (ou seja, in natura, sem processamento), que é economicamente mais relevante na região (Wesz Jr., 2016), além de ser a única com dados para os quatro países.

Argentina

Na Argentina, a área colhida com soja teve um crescimento praticamente ininterrupto entre 2003 e 2011, quando passou de 12,5 para 18,7 milhões de hectares, permanecendo estável até 2016, quando apresentou uma queda em 2017 e 2018, ficando na casa dos 16 milhões de hectares, o que corresponde a aproximadamente 60% da área agrícola do país. Em termos de produção, não obstante as variações entre os anos decorrentes de problemas climáticos, também houve um crescimento ao longo das safras, passando de 34,8 para 61,4 milhões de toneladas entre 2003 e 2015, quando foi a maior colheita de soja da história da Argentina. Nos anos seguintes houve uma queda na quantidade colhida, acompanhando a redução da área, embora tenha sido mais intensa em 2018 em função da intensa estiagem (37,7 milhões de toneladas). Outro dado importante é que a Argentina, quando comparada aos outros três países, é o país que mais destina soja para a indústria doméstica, exportando em grão 19,0% da produção de soja de 2003 a 2018 (Faostat, 2021; MAGyP, 2021).

Em relação às empresas exportadoras de soja in natura, a americana Cargill se instalou no país em 1947 e demonstrou pioneirismos nas atividades comerciais, como também na industrialização da oleaginosa, no transporte interno e externo e armazenamento (Pierri, 2014). A empresa, durante os primeiros anos da análise (de 2003 a 2009), respondeu por, em média, 20% das exportações de soja em grão do país, alcançando em 2005, 24% como máxima parcela. Após 2010 a firma apresentou declínios, sendo mais acentuado em 2013, quando respondeu por apenas 3,8%. Esta queda deriva da atuação no processamento e da migração de parte de sua estrutura para o Paraguai, em busca de melhor condições fiscais e tributárias (Santos & Wesz Jr., 2018). Mas a Cargill volta a crescer na Argentina, controlando 11% das exportações de soja em grão em 2018 (Tabela 1), e chegando a 15% em 2019 e 2020, ocupando a terceira posição (MAGyP, 2021; BCR, 2021).

Outra empresa que manteve, até 2010, forte controle frente às exportações foi a americana ADM. A ADM Argentina iniciou suas atividades em 1999 e de 2003 a 2010 estava entre as três maiores exportadoras, juntamente da Bunge e Cargill, com valor próximo a 12%. Já na segunda metade da análise, pós 2010, é possível observar uma ampliação do seu poder de mercado, finalizando em 2018 na liderança no setor, com 24,0% do mercado (Tabela 1). Um ponto importante é que, diferente das suas principais concorrentes, a empresa não atua no processamento na Argentina, sendo que toda a sua compra é exportada in natura.

Outra empresa relevante no mercado argentino é a americana Bunge, operando no país desde 1884, mas cuja participação no mercado da soja em grão tem oscilado bastante no período analisado. Entre 2006 e 2009 ela esteve entre as quatro maiores, inclusive ocupou a segunda posição em alguns anos. Entretanto, de 2010 em diante, os valores relativos diminuíram e oscilaram entre 10,4% em 2013 e 4,4% em 2017. Inclusive, no último ano da análise, suas operações não foram listadas na exportação de soja em grão, porém mantiveram níveis expressivos para exportações de derivados de soja, com 2.524.954 toneladas em subprodutos, como óleo e farelo (MAGyP, 2021). Para complementar as empresas ABCD, a francesa Dreyfus também é pioneira no setor, atuando a mais de 120 anos no país (Pierri, 2014). Na primeira metade da análise a firma exportou entre 10,5% em 2004 e 13,0% em 2007, também integrando o top 4. Entre 2010 e 2018 a variação no poder de mercado da empresa foi pequena, apenas em 2014 ela apresentou valores menos significativos (6,5%), finalizando 2018 na sexta posição, com 9,3% (Tabela 1).

Tabela 1 - Concentração (MS, RC4 e IHH) das empresas exportadoras de soja em grão na Argentina (2003 – 2018)

Empresas

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Cargill

19,7%

20,4%

24,0%

20,6%

20,4%

20,4%

22,3%

16,8%

Bunge

0,0%

2,4%

9,4%

15,8%

12,8%

10,9%

12,8%

12,4%

ADM

12,1%

13,6%

10,4%

7,1%

13,1%

11,7%

17,6%

12,9%

Dreyfus

11,4%

10,2%

12,7%

13,0%

10,5%

10,7%

13,4%

11,9%

Noble

5,5%

6,4%

7,1%

10,4%

13,2%

12,6%

6,4%

2,3%

Toepfer

16,6%

13,3%

14,6%

12,6%

7,9%

10,5%

10,1%

16,3%

Vicentin

0,0%

0,0%

0,3%

0,4%

0,1%

0,0%

0,5%

0,5%

Nidera

7,3%

9,6%

9,8%

10,8%

12,8%

10,4%

4,8%

10,6%

Terminal

0,1%

0,0%

1,0%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

ACA

6,9%

10,1%

9,3%

5,8%

5,8%

5,6%

9,5%

10,7%

AFA

0,6%

0,4%

0,4%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

2,3%

Outros

19,7%

13,5%

1,0%

3,4%

3,4%

7,2%

2,6%

3,3%

Total

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

RC4

59,9%

57,6%

61,7%

62,1%

59,1%

55,6%

66,1%

58,4%

IHH

1.326

1.137

1.379

1.312

1.289

1.207

1.328

1.264

Empresas

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Cargill

5,9%

7,1%

3,8%

5,7%

6,3%

6,3%

9,5%

11,9%

Bunge

6,9%

9,2%

10,4%

4,3%

7,9%

8,2%

4,4%

0,0%

ADM

31,1%

13,2%

4,3%

19,2%

18,3%

18,8%

13,8%

24,0%

Dreyfus

11,8%

12,6%

11,7%

6,5%

12,1%

11,8%

10,4%

9,3%

Noble

4,2%

2,6%

6,9%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

Toepfer

17,1%

9,0%

4,3%

8,4%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

Vicentin

0,0%

0,0%

0,0%

0,5%

9,2%

0,0%

3,1%

1,8%

Nidera

4,2%

5,4%

4,8%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

0,0%

COFCO

0,0%

0,0%

0,0%

24,3%

28,1%

14,3%

15,2%

12,7%

ACA

10,8%

18,7%

22,0%

15,5%

11,0%

9,9%

13,4%

14,0%

CHS

13,3%

6,2%

7,0%

6,9%

5,6%

6,0%

7,3%

7,6%

Amaggi

5,4%

4,6%

3,7%

4,3%

4,4%

4,5%

5,7%

10,7%

AFA

0,0%

7,5%

6,4%

5,3%

5,6%

5,7%

7,1%

0,6%

Outros

2,9%

11,4%

17,9%

15,8%

12,9%

14,5%

10,3%

7,4%

Total

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

RC4

73,3%

53,7%

51,2%

67,4%

69,5%

54,8%

52,7%

62,6%

Fonte: MAGyP (2021) e BCR (2020).

Das empresas estrangeiras com grande capacidade instalada no país, se destaca também a Toepfer, na Argentina desde 1988, que em 2002 teve 80% das suas ações vendidas para ADM, mas que em 2014 passou a ter o controle de 100% 4. De 2003 a 2011 Toepfer esteve entre o principal grupo agroexportador (exceto em 2007), exportando acima de 10% do total. Uma situação similar ocorreu com as empresas Noble e Nidera5, relevantes no cenário nacional, chegando a exportar individualmente mais de 10% da soja entre 2006 e 2008 (Tabela 1).

Como foi comentado, a COFCO teve forte expansão no mercado global, com destaque ao Mercosul, ao adquirir Noble e Nidera (Wesz Jr., Escher & Mefano, 2021). Na Argentina, em 2014, já foi responsável por 24,3% das exportações, liderando neste ano. No ano seguinte a firma se mantém líder, exportando volumes que, segundo os dados da Bolsa de Comércio de Rosário, alcançaram 28,1% em 2015. Após esses dois anos é possível notar uma queda, chegando a 12,7% em 2018, na terceira posição (Tabela 1). Em 2019 ela ficou na segunda posição, atrás da ADM, e em 2020 foi novamente a empresa líder (MAGyP, 2021).

Entre as exportadoras de volumes consideráveis de soja e participações ininterruptas, cabe destacar o papel da Associação de Cooperativas Argentinas (ACA), que na maioria dos anos exporta valores acima dos 10%, alcançando 22,0% em 2013, sendo líder das exportações neste ano e finalizando a série entre as 4 maiores empresas exportadoras de soja em grão. Além da ACA, a Associação de Agricultores da Argentina (AFA) também está presente, e apesar das aparições oscilantes e pouco expressivas entre 2003 e 2010, com no máximo 2,3% em 2010, de 2012 a 2017 teve uma variação entre 5,3% e 7,5%, alcançando este pico em 2012.

Outra empresa que está se estabilizando no contexto regional é a brasileira Amaggi, que de 2011 em diante passa a responder por aproximadamente 5% do total, com destaque para 2018, quando alcança 10,7% e passa a estar entre as cincos principais exportadoras de soja em grão. Seguindo essa perspectiva de atores com atuação regional, vale destacar a participação da Vicentin, empresa argentina fundada em 1929, focada na industrialização da soja e que durante toda a análise apresentou resultados modestos, variando entre 0,1% em 2007 e 3,1% em 2017, com uma exceção no ano de 2015, quando exportou o equivalente a 9,2% (Tabela 1).

No contexto de agentes globais, também merece referência a CHS, uma cooperativa de produtores dos Estados Unidos, que está presente na Argentina desde 2009, e a partir de então apresentou níveis medianos de poder de mercado. Seu auge foi no ano de 2011 com 13,3% das exportações, quando esteve no top 4, e posteriormente sua participação se estabilizou entre os 6-7% (Tabela 1).

Em relação aos indicadores, o IHH oscila entre os anos 2003 e 2010, mas sempre apontando para uma mediana concentração. O RC4, na maioria dos anos, reflete uma concentração moderada, com exceção de 2009, 2011, 2014 e 2015, quando pode ser classificado com alta concentração, segundo Medeiros e Reis (1995) e Fraga e Medeiros (2005). É evidente um predomínio das empresas transnacionais ABCD até 2011, quando respondiam por mais de 50% das exportações na maioria dos anos. Entretanto, a entrada de novos agentes, com destaque à COFCO, além de Amaggi e CHS, e o fortalecimento de alguns tradicionais atores locais, como ACA e AFA, reduz o poder de mercado da soja em grão de ABCD. Apesar disso, ADM segue como líder nas vendas in natura em vários anos, enquanto Cargill, Bunge e Dreyfus tem participação importante na exportação de óleo e farelo de soja (geralmente estando nas seis primeiras posições) (MAGyP, 2021). Vale frisar, por fim, que mesmo com essas alterações, o grau de concentração manteve-se muito similar em relação aos anos anteriores.

Brasil

A área colhida com soja quase que dobrou no Brasil entre 2003 e 2018, quando passou de 18,5 para 34,7 milhões de hectares, o que representa mais da metade da área agrícola cultivada no país. A produção cresceu ainda mais, pois saltou de 55 a praticamente 120 milhões de toneladas no mesmo período. Diferentemente da Argentina, que destina 4/5 da soja para a indústria doméstica, o Brasil exportou 51,0% da produção total de soja de 2003 a 2018, sendo que esse percentual tem subido nos últimos anos, chegando a 70,9% em 2018 (Faostat, 2021).

No Brasil a Bunge é a principal empresa nas exportações de soja, estando no país desde 1905. Durante o período analisado a firma esteve liderando as exportações de soja em todos os anos (com participação variando entre 13,95% e 24,10%), sendo maior seu poder de mercado nos oito primeiros anos, quando respondia por mais de um quinto do total (Tabela 2). E, apesar da participação relativa da empresa ter diminuído entre 2004 e 2018, a Bunge praticamente duplicou a volume das exportações de soja, chegando a mais de 15 milhões de toneladas em 2018.

Outra firma de grande destaque é a Cargill, presente em todos os anos da análise entre as três principais empresas. A transnacional está instalada no Brasil desde 1965, com grande expansão após a década de 2000, tendo uma participação nas exportações de soja que varia de 10-15% (Tabela 2). Em termos absolutos, a empresas triplicou a sua participação no mercado. Ao comparar o ano de 2004 com 2018, ela inicia com um volume exportado de 3,9 e ao final alcança 12,8 milhões de toneladas (TRASE, 2021). Em quase todos os anos da análise a Cargill se manteve na segunda colocação.

Outra empresa americana é a ADM, que entrou no mercado brasileiro mais recentemente, em 1997, sendo possível perceber uma rápida conquista de mercado, já que em 2003 respondia por 8% do mercado, chegando a 15,0% em 2009. Nos últimos anos tem mantido a sua participação próxima dos 10% (Tabela 2). A francesa Dreyfus, cuja atuação iniciou em 1942 no Brasil, também está entre as empresas transnacionais que atuam no cenário nacional. No ano de 2003 participava com 5% das exportações brasileiras, cujo valor foi sendo ampliado ao longo das safras. Entre os anos da análise, Dreyfus obteve uma grande expansão em termos absolutos (evolução de 544,39%), exportando 9,8 milhões de toneladas em 2018 (9,9% do total). No Brasil, ABCD também exportam, além da oleaginosa em grão, óleo refinado e outros subprodutos da soja.

Tabela 2 - Concentração (MS e RC4) das 10 maiores empresas exportadoras de soja em grão no Brasil (2003 – 2018)

Empresas

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Bunge

24,0%

24,0%

23,6%

23,5%

21,0%

23,7%

24,1%

21,6%

Cargill

11,0%

11,0%

12,4%

14,8%

13,4%

11,8%

11,5%

13,1%

ADM

8,0%

7,8%

11,3%

8,2%

9,4%

12,8%

15,0%

14,0%

Amaggi

5,0%

5,7%

6,1%

5,9%

5,4%

5,8%

7,0%

5,6%

Coamo

-

4,6%

3,7%

2,6%

3,1%

3,1%

3,6%

4,3%

Dreyfus

5,0%

4,2%

2,7%

5,1%

5,1%

6,5%

7,3%

6,7%

Agrenco

-

-

3,4%

4,8%

3,6%

-

-

-

Caramuru

-

3,2%

2,4%

-

-

2,8%

-

-

Bianchini

-

3,0%

-

3,8%

4,6%

3,6%

3,4%

3,8%

Multigrain

-

-

-

-

-

-

2,9%

Nidera

-

-

-

-

-

-

-

3,2%

Outros

47,0%

36,5%

34,4%

31,4%

34,5%

29,9%

25,2%

27,7%

Total

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

RC4

45,0%

48,6%

53,4%

52,4%

49,1%

54,8%

57,9%

55,5%

Empresas

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Bunge

23,1%

18,3%

18,0%

17,1%

15,0%

15,1%

14,0%

15,8%

Cargill

13,3%

12,1%

10,6%

11,0%

12,4%

12,7%

12,6%

12,9%

ADM

11,6%

11,9%

10,7%

9,1%

10,0%

8,1%

11,1%

11,5%

Amaggi

4,6%

5,0%

4,3%

4,5%

4,8%

5,0%

5,2%

5,9%

Coamo

4,4%

3,7%

3,7%

3,0%

3,6%

3,4%

3,6%

2,9%

Dreyfus

6,9%

8,1%

9,2%

7,3%

5,3%

5,9%

7,8%

9,9%

Bianchini

3,8%

-

-

2,7%

-

2,9%

-

-

Nidera

-

3,6%

3,9%

5,0%

-

-

-

-

Noble

2,8%

3,2%

-

-

COFCO

-

-

-

-

7,9%

7,0%

6,8%

5,3%

CHS

-

-

3,0%

-

-

-

-

-

Engelhart

-

-

-

-

3,1%

-

-

-

Gavilon

-

-

-

-

-

-

3,4%

5,2%

Outros

29,4%

34,1%

36,8%

40,3%

37,9%

39,9%

35,5%

30,6%

Total

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

RC4

54,9%

50,3%

48,4%

44,5%

45,3%

42,9%

45,5%

49,9%

Fonte: Trase (2021).

Entre as empresas com grande influência no cenário agroexportador, a brasileira Amaggi ganha destaque por estar em quase todos os períodos entre as cinco maiores do setor. A firma, de propriedade da família de Blairo Maggi, ex-senador, ex-governador do Mato Grosso e ex-ministro da Agricultura, foi fundada no Paraná em 1977, e, em 2003, detinha 5% da exportação total de soja em grão. As suas exportações, assim como as demais líderes do setor, duplicou durante os anos em análise, sendo responsável por movimentar aproximadamente 5,9 milhões de toneladas em 2018. Na maioria dos anos o poder de mercado da Amaggi tem se mantido próximo dos 5% (Tabela 2).

Entre as companhias nacionais que tiveram forte presença no mercado da soja cabe ressaltar a Cooperativa Agroindustrial Coamo, também de origem paranaense, fundada em 1970. Com relação as suas participações nas exportações, segundo os dados da Trase (2021), elas foram robustas nos primeiros anos da análise, com presença à frente de transnacionais como Dreyfus, entretanto, a sua participação foi se tornando menos expressiva, variando de 2,7% a 4,6% (Tabela 2). Além da Coamo, outras duas empresas nacionais também podem ser destacadas: Caramuru e Bianchini. A Caramuru foi fundada no ano de 1964 no Paraná e esteve presente de maneira alternada nos primeiros anos da análise entre as 10 maiores exportadoras, chegando a exportar 1,1 milhões de toneladas, o que equivale a 3,2% em 2004. A Bianchini, por sua vez, iniciou suas atividades no ano de 1960 no Rio Grande do Sul e também apresenta resultados oscilantes. Conforme a Tabela 2, as suas exportações nunca ultrapassaram 5% do total nacional.

Entre as empresas que adentraram no mercado mais recentemente, além da ADM, está a Nidera, cujas exportações passam de 1,4 para 3,6 milhões de toneladas de 2010 a 2015, uma evolução de 3,2% para 5,0%. Apesar da compra da Noble e Nidera, até 2018 a participação da COFCO no Brasil na exportação de soja em grão, todavia, está mais modesta quando comparado com os valores relativos da Argentina. No ano de 2018 a empresa exportou 5,3 milhões de toneladas (5,35% do total), aquém das principais empresas transnacionais ABCD e da brasileira Amaggi6.

Além das empresas citadas, no top 10 aparecem de maneira esporádica e menos expressivas outras companhias, como a francesa Agrenco (que faliu em 2013), a japonesa Multigrain (do Grupo Mitsui & Co.), a cooperativa agrícola americana CHS, a inglesa Engelhart e a Gavilon (subsidiária indireta da americana Gavilon Agriculture Investment, comprada em 2013 pela japonesa Marubeni).

Em termos de concentração do mercado, o RC4 tem permanecido próximo de 50%, o que indica uma concentração moderada (Medeiros & Reis, 1995; Fraga & Medeiros, 2005). E, ao longo dos anos, não há indícios de redução ou crescimento deste valor, oscilando entre 40-60% de 2003 e 2018. Outro tema que vale destacar é o elevado poder de mercado das empresas transnacionais, com destaque a ABCD, que de 2008 em diante tem permanecido entre as quatro principais exportadoras de soja no Brasil. As firmas nacionais (Amaggi, Coamo, Caramuru e Bianchini) foram perdendo espaço ao longo dos anos, cuja parcela de mercado caiu de 16,4% em 2004 para 8,8% em 2018. Uma última ressalva diz respeito ao crescimento do capital asiático (chinês e japonês), que não figurava no top 10 em 2013 e em 2018 o seu poder de mercado alcançava 10,6%, ou seja, um valor superior ao peso das empresas nacionais (Tabela 2).

Paraguai

No Paraguai, a área colhida com soja mais do que dobrou entre 2003 e 2018, passando de 1,5 para 3,5 milhões de hectares, ocupando 70% da sua superfície agrícola. Em termos de produção, cresceu de 4,2 para 11,1 milhões de toneladas no mesmo período. Assim com o Brasil, Paraguai, exporta um elevado percentual do grão colhido, chegando a 57,8% da produção total de soja de 2003 a 2018 (Faostat, 2021).

A ADM, assim como na Argentina e no Brasil entrou tardiamente no Paraguai em 1997, quando adquiriu as companhias Agrocereales e Silo Amambay, o que a transformou na firma líder assim que se estabeleceu no país, posto que manteve nos anos posteriores. Em 2004, ADM respondia por 38,1% do volume total exportado de soja em grãos, mas chegou a ocupar quase a metade de toda a exportação do país em 2009. Essas cifras foram diluídas ao longo dos anos, principalmente com a entrada de novos agentes, o fortalecimento de antigos e a sua atuação no processamento da soja no Paraguai (Santos & Wesz Jr., 2018). A partir de 2010 até 2015 a ADM disputou a liderança com a Cargill (Tabela 3).

A Cargill ingressou no país em 1978 e, além de atuar fortemente na exportação de soja em grão, entre os anos 2000 e 2012, atuava isoladamente no ramo de exportação de óleo de soja e seus derivados. No ano de 2013 a firma volta a ter grande participação, quando ADM também passa a atuar no beneficiamento de soja. E, entre os anos de 2013 e 2015, a Cargill se tornou líder do segmento, alcançando 24,6% no ano de 2013, mas em 2016 é ultrapassada pela COFCO. Após a aquisição da Noble e Nidera, COFCO passa a liderar com 15,1% do mercado em 2016, e nos anos seguintes continua com altos níveis de exportação no Paraguai (14,9% em 2017 e 13,1% em 2018) (Tabela 3).

Outra empresa que ganhou mercado no Paraguai e que também não integra o chamado ABCD foi a russa Sodrugestvo, que “iniciou suas operações no país no ano de 2014 por meio de uma joint-venture com os acionistas da Gimenez Family, proprietários da maior cadeia de terminais portuários do Paraguai” (Santos & Wesz Jr., 2018, p. 20). A empresa passou a liderar as exportações no ano de 2017 com 16,1% do mercado, ultrapassando as demais empresas, mas no ano de 2018 foi responsável por 14,6%, ocupando a segunda posição no ranking, atrás da Cargill (Tabela 3).

Dreyfus também está no Paraguai, iniciando suas operações no ano de 2004 e, desde então, respondeu por volumes consideráveis na comercialização da oleaginosa. Entre os anos de 2005 a 2014, esteve entre o grupo das cinco maiores do mercado, perdendo forças no ano de 2015 com a entrada da COFCO e Sodrugestvo. Para completar o grupo de empresas transnacionais mais tradicionais no mercado global, a Bunge aparece no Paraguai a partir dos anos 2006 e já no ano de 2007 a firma ocupa a segunda colocação nas exportações de soja, com 18,8%, atrás apenas da ADM. Entre os anos 2007 e 2012, a empresa participou ativamente entre o grupo nuclear de exportadores de soja, figurando entre as quatro maiores do setor.

Além das empresas citadas, cabe mencionar o Grupo Favero, uma firma paraguaia, ainda que o proprietário seja o brasileiro Tranquilo Favero, cuja participação no mercado da soja paraguaia varia entre 2,5% em 2018 e 7,1% em 2014, e em alguns anos figurou entre as cinco principais empresas exportadoras de soja no Paraguai. A empresa de origem argentina Vicentin iniciou seu funcionamento em 2005 no Paraguai e, desde então, também alcançou grandes volumes de exportação. No ano de 2008 foi responsável por 8,6% do total de soja em grão exportada, variando sua participação entre 2,0% e 8,6% de 2005 a 2018, estando presente em todos os anos da análise após a sua inserção no país (Tabela 3).

Das empresas com participações em alguns anos específicos, se destaca Agrorama, com aparições consistentes durante os anos de 2005 até 2009. Além dessa, a Multigranos consta nos primeiros anos da análise, sobretudo em 2004, quando exportou grandes volumes de soja (11,2%). Além das duas empresas citadas, a Cooperativa Colonias Unidas (CCU), fundada em 1953, teve suas aparições de maneira consistente em todos os anos, variando de 0,1% em 2008 até 5,2% em 2016. Complementarmente as demais, a empresa paraguaia Francisco Vierci, desde sua aparição em 2006, figurou nos demais anos, variando suas exportações entre 4,6% em 2018 e 1,8% em 2006 (Tabela 3).

Com relação aos índices de concentração, no início da análise foi possível observar um mercado altamente concentrado, com apenas Cargill e ADM dominando mais de 50% do mercado em 2004. Neste ano o RC4 se mostrou muito elevado na medida em que as 4 maiores empresas dominaram três quartos das exportações, com o IHH alcançando 2.076. Para o ano de 2005 essa concentração se manteve alta, dissolvida entre um número mais elevado de empresas, porém as 4 principais foram responsáveis por 76,6% do total exportado no país.

Após a entrada e consolidação da Dreyfus e da Bunge, ABCD dominam o mercado até o ano de 2009, ainda que ADM seguisse na liderança isolada, alcançando os mais altos níveis de concentração isoladamente, com 44,0% do mercado. Em função disso, o IHH seguiu altamente concentrado, com 2.290. Após 2014 percebe-se uma queda constante nos índices de concentração com a entrada de novos atores e uma maior distribuição do mercado entre eles. De 2014, em diante, pode-se dizer que o grau de concentração do mercado da soja em grão no Paraguai está entre moderado e com ausência de concentração, com o RC4 próximo de 50% e o IHH por volta de 900 (Tabela 3).

Tabela 3 - Concentração (MS, RC4 e IHH) das empresas exportadoras de soja em grão no Paraguai (2003 – 2018)

Empresas

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

ADM

32,0

38,1

21,4

37,9

29,4

32,6

44,0

25,7

Cargill

17,7

20,1

19,6

14,0

11,2

11,7

6,8

23,4

Multigranos

10,4

11,2

0,8

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Favero

5,7

3,8

2,7

3,0

3,8

6,9

5,1

4,9

Agrorama

8

3,6

2

1,4

0,4

0,3

0,0

0,0

CCU

3,5

3,1

1,7

1,3

0,8

0,5

2,1

0,8

Agilisa

1,4

6,4

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Guarani

0,1

0,5

27,5

2,1

0,0

0,0

0,0

0,0

Vincentin

0,0

0,0

8,2

7,0

7,9

8,6

3,4

4,7

Noble

0,0

0,0

0,9

4,4

7,5

6,4

8,9

8,2

Dreyfus

0,0

0,1

2,9

8,6

9,8

8,9

6,2

6,3

Bunge

0,0

0,0

0,0

1,9

18,8

15,3

11,0

12,2

Francisco V

0,0

0,0

1,0

1,8

1,5

1,6

3,3

3,1

Outros

21,2

13,2

11,4

16,7

8,8

7,4

9,3

10,8

Total

100

100

100

100

100

100

100

100

RC4

68,0

75,8

76,6

67,4

69,3

68,5

70,7

69,5

IHH

1.596

2.076

1.702

1.826

1.589

1.680

2.290

1.532

Empresas

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

ADM

27,1

26,8

15,4

13,7

13,1

12,1

10,2

12,1

Cargill

17

19,9

24,6

16,9

16,9

14,1

14,6

15,6

Favero

6,8

5,8

6,3

7,1

7,6

3,8

3,1

2,5

CCU

0,1

0,1

0,9

4,3

4,2

5,2

4,6

4,1

Vincentin

5,3

2,9

6

4

3,7

4,9

6,6

7,2

Noble

9,6

10,5

11,1

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

COFCO

0,0

0,0

0,0

10,2

11,2

15,1

14,9

13,1

Dreyfus

7,5

5,6

7,4

7,3

2,9

5,5

5,7

4,1

Bunge

10,3

11,1

7,2

4,3

3,8

4,1

5,1

5,3

Francisco Vi

2,5

3,2

3

3,3

5,9

2,5

1,8

4,6

CHS

0,0

0,0

2,6

2,6

1,7

4,5

3,7

2,7

Sodrugestvo

0,0

0,0

0,0

0,0

7,5

11,7

16,1

14,6

Outros

13,8

14,2

15,4

26,2

21,6

16,5

13,9

14,0

Total

100

100

100

100

100

100

100,0

100,0

RC4

64

68,2

58,5

48,2

48,8

53

55,7

55,4

IHH

1.376

1.449

1.183

800

834

882

995,4

968,0

Fonte: Aduana (2020).

Uruguai

A produção de soja é mais recente e menor no Uruguai quando comparada aos países vizinhos. Em 2003 não chegava a 100 mil hectares, sendo o pico em 2013 e 2014 (1,3 milhão de hectares), e ficando em um milhão de hectares em 2018 (ocupando 60% da área dedicada à agricultura no país). Em termos de produção, salta de 201 mil toneladas para 3,2 milhões de toneladas de 2003 a 2017, tendo uma retração no último ano da análise por conta de problemas climáticos (1,3 milhões de toneladas em 2018). E, diferente da Argentina, Brasil e Paraguai, praticamente toda a safra uruguaia exportada em grão (Faostat, 2021).

Considerando que no início da série histórica, a produção de soja no Uruguai, apenas Barraca Jorge W. Erro participou de maneira consistente em todos os anos nas exportações do grão. Erro é uma empresa de capital uruguaio e teve seu início no ano de 1947, sendo que em 2003 respondia por 61% das exportações de soja. Nesse momento os índices como o RC4 demonstravam uma alta concentração (84%) e o IHH indicava uma grande centralização (3.992) (Tabela 4).

Além da Erro, o primeiro momento é marcado pela participação de outras duas empresas. Uma delas é Pedro Macio, fundada em 1967, que inicia em 2001 com uma parcela de mercado equivalente a 11%, e logo apresenta diversas quedas, até desaparecer das exportações. A segunda empresa é a Garmet, que atuou de maneira competitiva nos primeiros anos da análise, com valores máximos de 15% alcançados em 2008.

No ano de 2006, com a entrada das corporações transnacionais no Uruguai, foi possível perceber uma grande elevação no volume exportado, que passa de 631.590,30 a 3.518.731,06 entre 2006 e 2013 (Uruguay XXI, 2021). A partir daí os índices demonstram um início de pulverização e, ao comparar com o ano de 2003 é possível verificar uma queda consistente no RC4, e sobretudo uma perda de poder da líder Erro, que passa de 61% para 25%.

Tabela 4 - Concentração (MS, RC4 e IHH) das empresas exportadoras de soja em Grão no Uruguai (2003 – 2018)

Empresa

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Cargill

0%

0%

18%

20%

20%

24%

16%

11%

Erro

61%

34%

24%

25%

24%

20%

20%

19%

Dreyfus

0%

4%

10%

9%

11%

12%

12%

10%

Garmet

7%

16%

11%

9%

13%

15%

13%

10%

Ceroil

0%

0%

0%

0%

0%

0%

0%

10%

Kilafen

0%

2%

5%

4%

4%

5%

6%

5%

Niedera

0%

0%

0%

0%

0%

0%

0%

0%

ADM

0%

0%

0%

0%

0%

1%

2%

6%

Coop Na

0%

0%

0%

5%

5%

6%

5%

4%

ADP

0%

9%

11%

8%

6%

7%

10%

8%

Fadisol

2%

6%

3%

1%

1%

0%

0%

0%

Agro terra

0%

7%

7%

7%

8%

6%

4%

4%

Evera

0%

0%

0%

1%

1%

2%

4%

2%

Pedro M

7%

4%

0%

2%

2%

0%

0%

0%

Coop Gra

9%

7%

6%

0%

0%

0%

0%

0%

Lodytex

0%

0%

0%

0%

0%

0%

0%

0%

Outros

15%

12%

5%

9%

5%

2%

8%

10%

RC4

84%

63%

64%

63%

68%

71%

60%

50%

IHH

3.992

1.684

1.371

1.388

1.409

1.489

1.141

950

Empresa

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Cargill

13%

17%

17%

17%

17%

15%

20%

25%

Erro

18%

15%

14%

14%

15%

16%

15%

17%

Dreyfus

11%

9%

12%

10%

16%

14%

17%

17%

Garmet

10%

8%

8%

8%

7%

6%

5%

3%

Ceroil

13%

14%

13%

13%

7%

9%

0%

0%

Kilafen

5%

5%

6%

6%

5%

5%

6%

2%

Nidera

0%

1%

2%

-

-

-

-

-

COFCO

-

-

-

3%

3%

5%

7%

14%

ADM

5%

5%

6%

5%

2%

2%

4%

3%

Coop Na

4%

4%

4%

4%

4%

3%

4%

3%

ADP

4%

3%

2%

2%

3%

4%

4%

2%

Fadisol

2%

2%

2%

2%

3%

3%

3%

2%

CHS

0%

0%

0%

1%

2%

3%

4%

5%

Agro terra

3%

2%

2%

1%

0%

0%

0%

0%

Evera

1%

0%

0%

1%

2%

4%

5%

0%

Outros

11%

15%

12%

11%

13%

11%

7%

8%

RC4

55%

55%

57%

54%

55%

54%

58%

72%

IHH

1.012

983

1.008

948

994

916

1.096

1.446

Fonte: Uruguay XXI (2021).

A Cargill inicia seu trabalho no Uruguai em 2005 e, no mesmo ano, já exportou 18% da soja, sendo atualmente a empresa líder. Já a Dreyfus ingressa no país em 2002, porém sua presença passa a ser marcante apenas em 2004, se consolidando entre as líderes em 2005, auxiliando para a pulverização do poder mercado, que foi comentado anteriormente. Além das empresas já citadas, a firma Agricultores del Plata (ADP) é outra que se mantém entre as principais, seguindo de maneira consistente em todos os anos da análise, com um poder de mercado que varia de 2% a 9% entre 2004 e 2018.

A partir de 2010 percebe-se a entrada de novos agentes, como é o caso da empresa Ceroil, que foi fundada no ano 1999 e passou a figurar a partir de 2010 com 10% do mercado. Nesse ano as quatro principais empresas ocuparam a menor parcela em todo o período analisado, com o RC4 ficando em 50%, e o IHH também apresenta um valor baixo (950), segunda menor posição, o que indica um mercado com ausência de concentração e competitivo, segundo os parâmetros indicados na metodologia. A Ceroil até 2016 esteve entre as principais empresas exportadoras do Uruguai, mas em 2017 encerra suas atividades. A Nidera entra no mercado das exportações de soja no Uruguai em 2012, participando com 1%, enquanto que, neste ano, as 4 maiores empresas (CR4) detinham 55%. Ao final da série analisada foi possível observar que a empresa, agora já adquirida pela COFCO, detinha a segunda colocação nas exportações, com 14% do total.

Os resultados indicaram um setor com volatilidades no nível de concentração, com os índices variando entre 50% a 97% no que diz respeito ao RC4 e de 916 a 5.596 no IHH. Isso demonstra que o mercado foi se adaptando ao longo dos anos, pois quando havia um reduzida produção e exportação do grão. apenas as empresas que já atuavam anteriormente no Uruguai conseguiram se estabelecer inicialmente. Com o aumento da produção de soja no país, a Cargill se instala no Uruguai e passa a dividir a parcela de mercado com as empresas nacionais. E, e em um terceiro momento, novas empresas transnacionais passam a disputar parcelas do mercado. No período atual, essas empresas, além da COFCO, são as principais firmas que disputam a liderança, mantendo novamente uma estrutura de mercado concentrada. Nesse cenário as quatro maiores empresas ocupam 70% das exportações de soja em grão no Uruguai, sendo o maior índice entre os quatro países do Mercosul.

Mercosul

A evolução das exportações de soja no Mercosul foi praticamente constante, com grande predomínio do Brasil que, sozinho respondeu por 90% da soja em grão enviada ao mercado internacional nos últimos anos da série histórica. Entretanto, foi possível observar uma constante alta na participação relativa do Paraguai e Uruguai, alcançando 5,4% e 1,2% do mercado em 2018. A Argentina apresentou variação, inclusive com uma tendência de queda para os últimos anos, dado que processa grande parte da sua produção e exporta como óleo e farelo. De forma agregada, o Mercosul praticamente triplicou suas exportações, passando de 48,1 para 110,6 milhões de toneladas entre 2003 e 2018 (Figura 1).

Os níveis de concentração nos diferentes países da análise flutuaram de acordo com as especificidades encontradas internamente, somadas às variações externas. Porém, de modo geral, apontaram para um cenário inicial dominado pelas corporações transnacionais, com níveis maiores ou menores de influência de firmas locais, sobretudo para o Uruguai, com pouca tradição no cultivo da soja quando comparado com os demais integrantes do Mercosul. Portanto, identificar os valores em nível regional se torna complementar às observações locais e fundamental para a compreensão do cenário geral, dado que três dos quatro países figuram como os principais exportadores em nível global (USDA, 2021).

Durante todo o período, o cenário regional foi liderado pela ADM e Cargill, com a ADM exportando no primeiro ano da análise 12,7% e a Cargill 13,0%. Para esse ano, nenhuma das empresas atuaram no Uruguai, a Dreyfus não exportou no Paraguai, a Bunge só exportou no Brasil, e mesmo assim, em 2003, ABCD dominaram 49,5% das exportações. No ano de 2004, a Dreyfus passa a exportar no Uruguai e Paraguai e a Bunge inicia suas exportações na Argentina, quando o RC4 passa a 48,8%. Com a estabilização da Bunge na Argentina, da Dreyfus no Paraguai e Uruguai e a entrada mais forte da Cargill no Uruguai em 2005, os níveis de concentração regional (RC4) para 2006 chegam a 52,5%. Em 2008, com a entrada da ADM no Uruguai, e Cargill e Dreyfus já estabilizadas no país, somados aos altos níveis de concentração no Paraguai, o RC4 apresenta um novo salto, chegando em 56,94%. Mas o ápice do nível de concentração pode ser visto em 2009, com as empresas transnacionais tradicionais (ABCD) concentrando 59,13% do mercado regional (Figura 2).

Figura 1 - Volume de soja exportado (em milhões de toneladas) pelos países do Mercosul (2003 - 2018)

Fonte: Adunas (2020), BCR (2020), MAGyP (2021), Uruguay XXI (2021) e Trase (2021).

Elaboração própria.

Entre os anos 2010 e 2011 houve uma estabilização, já com todas as empresas do núcleo ABCD instaladas, exportando nos dois anos em questão cerca de 56% do total comercializado regionalmente. Em 2012 foi possível observar uma queda percentual das exportações de soja em grãos para Argentina e Paraguai das transnacionais ABCD, e também houve um aumento para o mesmo período nas exportações de soja processada para esses países, o que indica maior diversificação das atividades produtivas das quatro corporações. Após 2014, com entrada oficial da COFCO nos países da região, é possível observar como a empresa absorve valores consideráveis nos índices regionais, inicialmente com 4,3% do total da exportação e alcançando 6,1% no último ano da análise (Figura 2), o que representa uma rápida inserção nesses novos mercados com competidores tradicionais já consolidados.

Figura 2 - Concentração empresarial regional (MS e RC4) das principais empresas exportadoras de soja em grão no Mercosul (2003 – 2018)

Fonte: Adunas (2020), BCR (2020), MAGyP (2021), Uruguay XXI (2021) e Trase (2021).

Elaboração própria.

Com essa breve análise dos níveis de concentração regional de maneira agregada foi possível perceber que as empresas ABCD permanecem fortes dentro do bloco, apesar de novos agentes exportadores, como é o caso da COFCO. Os valores das exportações indicam que as firmas tradicionais no ramo da soja em grão respondem por 49,0% do mercado, consolidadas nas quatro primeiras posições no Mercosul. Isso demonstra que, mesmo com a inserção das novas empresas, em nível regional, ABCD ainda detém o maior nível de poder nas exportações de soja em grão, não obstante algumas particularidades internas da cada país.

Também é importante comentar sobre as empresas de atuação regional, como Amaggi e Vicentin, que ocupam parcelas consideráveis do mercado nos países de origem, apresentam alguma relevância no cenário regional. As exportações da Amaggi em 2018 alcançaram 5,7% do mercado a nível de Mercosul. Também há empresas nacionais, que operam em se tratando do, sendo relativamente expressivas nesses territórios, como o Grupo Favero, Francisco Vierci e CCU no Paraguai; Erro e Garmet no Uruguai; Coamo no Brasil; e AFA e ACA na Argentina. Por fim, deve-se considerar outras empresas transnacionais com menor poder de mercado a nível regional quando comparado a ABCD e COFCO. Neste caso há empresas com atuação mais limitadas, como Sodrugestvo no Paraguai e em menor medida no Brasil, e também há corporações com atuações globais e regionais, porém com baixa expressividade em comparação às demais, como é o caso da CHS.

Em relação ao nível de concentração, em termos regionais, pode-se dizer que o mercado apresentou poucas variações nos índices de concentração, sobretudo até a primeira metade, entre 2003 e 2010, com uma estabilidade entre as empresas exportadoras de soja. É importante salientar que grande parte dos resultados traz consigo a configuração interna brasileira, dado seu grande peso nas exportações de soja em grão. Por outro lado, é possível notar que após a instalação e permanência das empresas (ABCD) em todos os países, o RC4 chegou em seu máximo com 59,13% em 2009 e, após esse momento, há uma série de quedas consecutivas, até o ano de 2016 (RC4 de 41,53%). Entretanto, há uma retomada da concentração com ABCD em 2017 e 2018, chegando neste último ano a praticamente a metade das exportações de soja in natura.

Considerações Finais

Neste trabalho foram analisados a participação das empresas na exportação de soja em grão, no período de 2003 e 2018, para os países-membros do Mercosul, além do seu peso na região de maneira agregada. Observou-se que, para os países em que a soja já estava presente há mais tempo e o mercado já consolidado, como Brasil e Argentina, as corporações internacionais controlavam de maneira intensa as exportações desde o princípio, havendo uma parcela menor de mercado que era detido pelas firmas nacionais (isso foi observado principalmente no Brasil).

Os níveis de concentração entre as principais empresas comercializadoras da oleaginosa oscilaram no Brasil e na Argentina, mas geralmente as quatro maiores alcançam metade das exportações ao longo dos anos. Para o Paraguai e Uruguai os indicadores demonstraram um mercado mais concentrado no início da análise, e, como característica fundamental para os dois países, se destaca o papel das empresas pioneiras no setor, de origem nacional, além da Cargill. Essa atuação pode ser vista com a Erro Barraca no Uruguai e em menor medida com o Grupo Favero no Paraguai, além das cooperativas. No Paraguai a ADM também participou fortemente do período inicial.

Ao longo do período analisado foi possível perceber a forte presença e poder das corporações ABCD nos quatro países. Além disso, houve um movimento de maior equalização entre os níveis de concentração das empresas transnacionais. A Bunge, que controlava 22,0% do mercado em 2009, passa a deter 12,2% em 2017. Do lado oposto está a Dreyfus, que em 2006 exportou 3,0% do mercado e terminou com 9,6% em 2018. ADM e Cargill, em 2003 e 2018, mantiveram seu mercado próximo dos 13%. Ao olhar para os dados de ABCD a nível de Mercosul em 2018, fica claro uma maior paridade de mercado entre as quatro transnacionais.

Apesar da expansão e exportação da soja ter alcançado novas empresas, ABCD também fizeram importantes investimentos no período e se mantiveram atuantes de maneira expressiva ao longo dos anos. E, com as variações no RC4, ficando abaixo de 50% de 2012 em diante, indica-se, segundo Fraga e Medeiros (2005), uma concentração moderada. Não obstante, o fato de quatro empresas (ABCD) controlarem em 2018 praticamente a metade da soja exportada na principal região de produção e comercio do grão em nível mundial, indica o elevado poder de mercados destas centenárias corporações transnacionais.

O resultado desta pesquisa vai de encontro com as discussões realizadas por McMichael (2012), Otero (2012), Goldfarb (2015), Ioris (2017) e Clapp e Isakson (2018), que indicam um processo simultâneo de globalização, concentração, transnacionalização e financeirização do sistema agroalimentar, em que um pequeno número de grandes corporações controlam parcelas expressivas de mercado nas principais áreas de produção das matérias-primas agrícolas.

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1 Este artigo contou com apoio do Edital CNPq (Edital Universal de 2018 - 426036/2018-2) e Unila (Editais n. 80/2019/PRPPG, 104/2020/PRPPG e 3/2021/IMEA).

2 Graduado em Ciências Econômicas - Economia, Integração e Desenvolvimento na Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA (Brasil). E-mail: wluciano652@gmail.com

3 Professor na Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA (Brasil). E-mail: valdemar.junior@unila.edu.br

4 Para o cálculo do poder de mercado, os dados da Toepfer e da ADM foram mantidos em separado até 2014, enquanto que em 2015 foi integralizado à ADM.

5 Os valores das empresas Noble e Nidera são somados à COFCO após 2014, ano em que ocorre a aquisição.

6 Entretanto, é preciso fazer uma ressalva porque dados divulgados na mídia, com base nas embarcações em portos, colocam a COFCO na terceira posição empatada com a Dreyfus, atrás da Bunge e Cargill e a frente da ADM (Reuters, 2019).